A realidade é que, se não reconhecermos e nos adaptarmos às implicações e avanços da tecnologia, poderemos enfrentar a perspectiva de uma “tempestade perfeita”, na qual o impacto de uma desigualdade em forte ascensão, o desemprego tecnológico e mudança do Clima se desenvolvem mais ou menos paralelamente e, de algumas maneiras, ampliam e reforçam uns aos outros. (Martin Ford)[1]Mostrando a vontade chinesa de ser nação líder mundial, Kai-fu Lee, presidente Executivo da Sinovation e ex-executivo de Inovação da Google, da Microsoft e da Apple, em seu livro “Inteligência Artificial” (ed. Globo) cita uma visita que fez numa noite há 20 anos na Universidade de Ciências e Tecnologia da China para tratar sobre o reconhecimento de fala e imagem. O auditório estava repleto de alunos e quando a palestra terminou em poucos minutos estava vazio. Indo embora, na companhia de alguns professores, não encontrou viva alma no pátio e estranhou a escuridão dos alojamentos. Porém, ao passar pelo portão de saída, viu centenas de jovens sentados em grupos pelas calçadas, aproveitando-se da iluminação pública para concluírem suas tarefas escolares. A obcecação pelos estudos para bom desempenho profissional é uma marca da juventude chinesa. Estavam na rua porque as luzes da universidade são desligadas às 23 horas. Em seu livro, Lee descreve o objetivo da China de ser potência mundial, onde estado, empresas e universidade estão alinhados, não só para o desenvolvimento, mas também para prever trabalho para todos e viver melhor no crescimento. Comparativamente, disse que “enquanto na China e nos EUA, a cada ano se formam 50 engenheiros por mil habitantes, no Brasil se formam 5”. Na palestra que fez na sede da Globo em São Paulo, ele foi contundente ao dizer que hoje um dos grandes problemas do mundo é a desigualdade social, que vai se agravar brutalmente com os milhares de empregos a serem perdidos para as máquinas. E só há duas saídas: os países adotarem modelos de renda mínima universal ou aprimorarem a formação profissional. Tanto na requalificação para novas ocupações, quanto na preparação de profissionais para um mundo em desenvolvimento exponencial. Na visão do biólogo americano Jared Diamond, o mundo enfrenta quatro ameaças: o risco de uma guerra nuclear, o descontrole do clima, o esgotamento dos recursos naturais e a desigualdade entre países e dentro deles. Também não é só a inteligência artificial que está mudando a vida empresarial. Há outras fontes de transformação disruptiva. A energia solar se tornará cada vez mais onipresente, desbancando a do petróleo, o que trará enormes consequências geopolíticas (exemplo, no Oriente Médio), sem contar com o valor das terras brasileiras usadas para a plantação de cana para a produção de álcool combustível. Do lado do consumo, os aparelhos utilitários das casas e das empresas estão consumindo cada vez menos energia. A introdução das chamadas "terras raras" na confecção de ímãs está permitindo toda uma nova geração de motores elétricos, desde furadeiras sem fio, até bicicletas e carros elétricos. Isso sem falar nas baterias de lítio e nas lâmpadas de LED. O blockchain, mais cedo ou mais tarde, irá mudar a forma como ocorrem as transações, sobretudo as financeiras. E junto vem o 5G que trará profundos impactos na internet. Enquanto todos esses desafios precisam ter soluções para um futuro mais harmônico, o Brasil está sempre precisando reacertar mal feitos e extinguir os erros do passado. Não há agenda para pensar no futuro por meio de soluções planejadas. Plano de Estado não existe, de governo nem pensar e muito menos idealizar a relação entre empresas e universidades. O imediatismo do dia a dia nos limita a apagar incêndios. Mas existe um desafio que poderia unir todos, inclusive a nação, se concretizado marcar uma geração que pensa num país onde todos possam ter as mesmas oportunidades. É viabilizar o que Yuval Harari, que esteve há pouco no Brasil, salientou: É necessário ensinar nossas crianças para o mundo daqui a 20 anos. Não podemos esperar para ver. Precisamos preparar as próximas gerações. Este seria o primeiro passo para garantir um futuro melhor para o país e precisaria ser uma meta nacional. Devemo-nos basear no exemplo da gana chinesa para perseguir objetivos e implanta-los, no Estado, nas empresas, nas famílias, na população, nos estudantes e nas escolas. Do infantil à universidade. A universidade precisará perceber que parou no tempo, em que o importante era o diploma. Hoje o seu real papel é de formar gente competente para os embates da vida e que tenha esperança num país melhor, com as mesmas oportunidades para todos. Os tempos mudaram. A ideia de que um curso universitário poderia dar competências a uma pessoa para ter bom desempenho profissional não existe mais. Precisamos ter consciência de que:
- As informações, a experiência e o conhecimento estão ao alcance de qualquer palma de mão.
- Não há mais profissões e sim carreiras onde o profissional passará segundo as circunstâncias e para isso precisará adquirir novas experiências, relacionar-se bem e estudar a vida inteira.
- O egresso do ensino superior não é aceito no mercado de trabalho porque as empresas afirmam que ele não tem as competências necessárias.
- A universidade está presa a regulamentações ultrapassadas e as instituições acreditam que nada vai mudar.
- A universidade ainda não saiu da segunda revolução industrial e de suas matérias da época, enquanto há uma ruptura tão grande de como as inovações estão acontecendo e que transformam o modo das pessoas convirem, se comunicarem, interagirem e trabalharem.
- A realidade é que a universidade não se adequou às transformações do mundo competitivo empresarial em que vivemos.
- O mais importante é a mudança do perfil do professor que deixa de ser um repetidor do que está nos livros, mais sim um mentor para acompanhar o desenvolvimento de seus alunos.